Extend (Ampliação)

Nesta fase da estratégia metodológica IBSE pretende-se que os estudantes mobilizem o conhecimento adquirido nas dimensões anteriores e o apliquem em novas situações problema, para desenvolver uma compreensão mais abrangente ou aplicada sobre o tema estudado. Isto pode ser feito, por exemplo, estimulando os alunos a questionarem situações rotineiras sob outros pontos de vista, utilizando para isto os conhecimentos construídos através de suas pesquisas.
Nessa perspectiva, para efetuar a ampliação, focamos nosso olhar no ambiente escolar, dando um zoom nos problemas socioambientais relacionados a temática de estudo de nossa pesquisa inicial, enfatizando a questão do descarte dos resíduos sólidos. Para isso, realizamos uma expedição investigativa na escola, com o intuito de executar um estudo do meio.
O estudo do meio, proporciona ao estudante a observação direta do meio socionatural que o cerca e do qual ele participa. Utiliza a observação como forma de pesquisar a realidade. É uma atividade que começa e termina na sala de aula quando os resultados das observações do meio são explorados, discutidos e avaliados. É uma atividade de construção do conhecimento através da vivência, no qual o aluno é mobilizado para a ação física e cognitiva.
Assim, iniciamos a atividade com uma conversa em sala, na qual os alunos foram orientados a observar, fotografar e fazer anotações a respeito do ambiente voltando o olhar para aspectos não costumeiros embora cotidianos como a conservação e a manutenção dos espaços, a presença e a quantidade de lixeiras, a presença e a quantidade de lixo no chão, entre outros. Logo após, partimos para a observação, passando por todos os pavilhões da escola, pátio interno e externo, banheiros e estacionamento.


Na aula seguinte realizamos uma troca de ideias sobre o que foi visualizado durante o estudo do meio. Os alunos perceberam o lixo que produzem e que muitos estudantes descartam os resíduos no chão, muitas vezes bem próximo as lixeiras, porém notou-se também o pequeno número de lixeiras disponíveis no pátio da escola e a presença de apenas uma lixeira para separação de resíduos, que é utilizada de maneira errada. Os educandos apontaram a sujeira, a falta de conservação dos banheiros e a presença de lixo, que consideraram inapropriado ao ambiente escolar, como bitucas de cigarro no pátio da escola, principalmente na área do estacionamento. Reconheceram que no pavilhão ocupado pelos alunos do Ensino Fundamental 1 há menos lixo no chão, mas que o espaço está sem vida, sem vegetação e sem nada que o torne alegre e atrativo as crianças. Criticaram a presença de galhos de árvores no fundo do pátio da escola, provavelmente oriundos da poda das árvores, que não receberam destinação adequada. E, um fato curioso, que ficamos um bom tempo discutindo, foi a presença de muitos chicletes colados no piso do saguão interno, próximo a cantina, que os alunos disseram não ter reparado até a expedição. Fato que mostra o quanto é fácil naturalizarmos os problemas socioambientais que nos cercam.
Esta tarefa favoreceu o protagonismo, as relações com o real e levou os alunos a compreender e interpretar fatos para fundamentar a ação posterior, que foi a proposição de soluções e/ou melhorias para os problemas socioambientais da escola.
Para realizar a proposição de soluções e/ou melhorias para os problemas socioambientais da escola realizamos um Brainstorming, que é uma apresentação de ideias e/ou alternativas de solução de forma livre e criativa. Durante essa atividade a turma sugeriu as seguintes ações:
-
Solucionar o problema dos galhos que estão jogados no fundo do pátio da escola, solicitando auxílio para o seu corte em pequenas toras que podem ser trocadas por outros materiais ou doadas.
-
Promover um “aulão” para a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, pais, “tio da cantina” para explicar sobre as lixeiras coloridas e, assim auxiliar na separação correta do lixo, mostrando a importância da figura do catador como figura central na ciclagem ambiental. Convidar a Presidente da associação para fazer uma fala;
-
Gravar vídeos com os funcionários responsáveis pela limpeza das salas de aula questionando como se sentem e como poderíamos ajudar na conservação do espaço e passar para os demais estudantes durante o “aulão”.
-
Promover oficinas de artesanato com material reciclável ou reutilizado, pensando também na geração de renda para as famílias;
-
-
Criar parcerias com a associação de catadores e/ou outros órgãos para o recolhimento de pilhas, baterias e óleo na escola – criação de ecopontos.
-
Propor que as turmas, no final do turno de estudo, organizem suas classes e recolham o lixo produzido, colocando-o nas lixeiras. Podendo ser criadas escalas e programas de incentivo.
-
Disponibilizar mais lixeiras na escola, identificadas para a separação dos resíduos. As mesmas podem ser adquiridas ou confeccionadas a partir de materiais reaproveitados como galões e baldes.
-
Colocar lixeiras nos banheiros.
-
Produzir jardins e hortas suspensos, com pallets coloridos para revitalizar a escola com cores e plantas. Os do espaço do currículo podem conter chás e contar com o envolvimento dos pequenos no plantio e cuidado.
-
Montagem de uma horta escolar para obtenção de hortaliças que podem ser utilizadas na merenda e doadas para famílias carentes*. A horta será manutenida pelos alunos e turmas da escola que quiserem participar do projeto.
-
Composteira para destinar os resíduos orgânicos produzidos na cozinha da escola.
-
Panfletagem na comunidade sobre os tipos de resíduo e os dias de coleta seletiva (caminhão do Projeto Minuano – Associação de Catadores).
Posteriormente, submeti essas proposições de soluções e/ou melhorias a análise crítica de especialistas em educação ambiental, a professora Drª. Diana Paula Salomão de Freitas e do Professor Me. Wagner Terra Silveira. As ações referentes a horta e a composteira foram desaconselhadas pelos especialistas, em virtude do tempo e energia dispensados para implementação e da demora para visualização dos resultados, contudo os alunos se dispuseram a realizar essas ações mesmo que a longo prazo e com o término da intervenção pedagógica. As demais foram aprovadas para serem efetivadas durante a realização da dimensão do empoderamento.
No terceiro momento desta atividade formulamos questionamentos à comunidade escolar, com o objetivo de verificar seus conhecimentos sobre a temática de estudo e perceber o que pode ser feito para melhorar o ambiente onde vivem.
Construímos as perguntas em aula e disponibilizamos à comunidade escolar por meio da ferramenta online Google Formulários, durante uma semana. Divulgamos a ação nas salas de aula e nas redes sociais. Após o encerramento do prazo analisamos as respostas, chegando aos seguintes resultados: a comunidade escolar afirma saber a quantidade de lixo que produz diariamente, bem como a diferença entre resíduos orgânicos e recicláveis, embora não realize a separação dos mesmos, apenas preocupando-se em reduzir a quantidade de plásticos consumidos e descartados em suas casas. Afirmam não queimar lixo, mas conhecer alguém que queime. Sinalizaram satisfação com o recolhimento de lixo urbano, não conhecem o funcionamento do “aterro sanitário” municipal, conhecem a associação de catadores, mas não sabem o dia e horário do recolhimento do material reciclável em seu bairro. A maioria afirmou saber a importância socioambiental dos catadores e diz não jogar lixo no chão, contradizendo a realidade que observamos.
Quanto as lixeiras coloridas, a maioria disse conhecer sua função, mas na hora de atribuir os resíduos as lixeiras corretas houve muita confusão, principalmente com relação as lixeiras verde (vidro) e vermelha (plástico). A comunidade afirmou acreditar que separando o lixo está contribuindo para melhoria socioambiental do município, embora a maioria afirme não o fazer, mostrando que precisamos continuar investindo em processos de educação ambiental para promover a conscientização e a transformação dessa realidade, o que foi percebido pelos estudantes durante a análise dos resultados.